Hidrologia brasileira

A água é um recurso de valor inestimável para a humanidade, participando de praticamente todas as suas atividades, desde a alimentação até a geração de energia. A conscientização da escassez deste recurso e de sua limitada capacidade de renovação transforma, a cada década que passa, a procura por este bem mineral, tornando-se mais acirrada a competitividade entre setores. O crescimento populacional aliado à intensificação das atividades de caráter poluidor tem, em todo mundo, mostrado a ocorrência de problemas relacionados à falta desse recurso, em condições adequadas de quantidade ou de qualidade, para o atendimento das necessidades mais elementares das populações.

A natureza finita da fonte renovável “recurso hídrico” contém um aspecto crítico, que deve ser analisado sob a ótica do crescimento populacional. São poucos os outros recursos essenciais à vida, que estão restritos por limites de disponibilidade tão definidos quantos os recursos hídricos. Com a concentração populacional, a disponibilidade média de água renovável por habitante tende a diminuir o que repercute sobre a saúde e os padrões de qualidade de vida. A garantia de acesso à água em quantidade suficiente e com qualidade adequada, vem adquirindo cada vez mais, contornos estratégicos para a sobrevivência das nações.

Entre 1940 e 1990 a população mundial duplicou, passando de 2,3 para 5,3 bilhões de habitantes, com o respectivo consumo de água aumentando de 1.000km3 para 4.000km3. Portanto, neste período, quadruplicou o consumo per capita de água por ano. A constatação prática destas duas tendências, neste fim de século, devido às características finitas do recurso, pressupõe uma remota probabilidade de que nova multiplicação ocorra no consumo. Segundo as estimativas, o limite superior de água utilizável no globo para consumo situa-se entre 9.000km3 e 14.000km3 (Freitas, 1998). Dentro desta perspectiva, o aumento da população implicará no uso desta reserva, para o consumo e para a melhoria da qualidade de vida proveniente do uso de energia elétrica.

A água total existente no planeta apresenta a seguinte distribuição: 97,5% – água salgada e 2,5% – água doce. Por sua vez, a água doce encontra-se nos seguintes percentuais: 69% em geleiras e neves eternas, 30% de água subterrânea, 0,7% em outras situações, tais como umidade do solo, pantanais e solos congelados, e 0,3% em rios e lagoas (Gleick, 1993). O Brasil, quinto país do mundo em superfície, possui 8% do total de água doce existente no mundo. Diante deste quadro verifica-se que, em nosso país, a fonte de energia mais abundante e de menor custo de geração tem sido de origem hidráulica.

Fonte: World Energy Council – 1996.
Figura 1 – Energia hidrelétrica gerada pelos maiores produtores do mundo

Maiores Produtores

Energia gerada em bilhões de kWh

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

Canada

293,9

305,3

313,2

320,3

324,7

330,7

349,2

USA

291,3

288,0

253,1

280,5

260,2

311,0

348,3

BRASIL

204,6

215,6

221,1

232,7

240,3

251,4

263,1

CHINA

125,1

123,8

130,2

149,2

165,1

184,9

181,3

RÚSSIA

——

—–

170,9

172,1

174,2

174,5

153,1

TOTAL MUNDIAL

2.904,9

2.923,7

2.909,6

2.975,7

2.984,3

3.073,0

3.137,9

Tabela 1 – Maiores produtores mundiais de hidroeletricidade entre 1990 e 1996.
Fonte: World Energy Council – 1996.

A geração de energia hidrelétrica mundial aumentou em 502 bilhões de kWh entre 1987 e 1996, com uma média anual de 2,5%. Segundo a World Energy Council (1996), Canadá, Estados Unidos, Brasil, China e Rússia foram os cinco maiores produtores de hidroeletricidade em 1996. A soma da energia hidrelétrica gerada por estes países representa 51% do total mundial (Figura 1). Na Tabela 1, é apresentada a energia gerada por hidrelétricas, por cada um destes países, no período de 1990 à 1996, e o total gerado no mundo em bilhões de kWh.

De maneira geral, a produção de energia nas Américas Central e do Sul cresceu 8,8 quatrilhões Btu entre 1987 à 1996, sendo que a produção de óleo bruto contribuiu para um acréscimo de 5,1 quatrilhões Btu e a hidroeletricidade 1,8 quatrilhões de Btu.